terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Homem prevenido vale por dois

Huuuuuumm, nem em todos os momentos.

Vivência de uma manhã de frio intenso.

Ontem, pelas seis e trinta da manhã, fui até ao computador ver a meteorologia. Temperatura menos vinte e sete, eólica que é o que conta para os sêres vivos, menos trinta e oito. Fui à cozinha espreitar o termómetro na varanda e não havia engano pelo que comecei a pensar como é que ia meter as orelhas de fora pois com este frio, tinha que ir distribuir a família. É certo que já suportei menos quarenta e dois derivado à baixa temperatura com vento fortíssimo, o que foi muito difícil, uma experiência enriquecedora mas ... nunca fiar.

Vesti o casaco de frio e se costumo sair com umas calças normais com outras quentes por dentro, tomei a decisão de sair com umas calças exteriores próprias para fazer face a baixas temperaturas. Por baixo do casaco duas camisolas para criarem almofadas de ar que mantêm o calor do nosso corpo. O inverso também funciona: o caso dos árabes com várias camadas de roupa no deserto. Na cabeça usei o barrete de ciclismo por baixo do carapuço do casaco e não o chapeu tipo russo. Luvas e botas a condizerem com o clima.


Saí de casa com três garrafas cheias de água morna para o caso de as portas do carro estarem coladas, o que técnicamente é errado. Costumo deitar um pouquinho a acompanhar as juntas, pois a água tem tendência a voltar a congelar. Só que se aquecermos rápidamente o interior do carro, podemos evitar que tal aconteça.


Durante o percurso para o carro, notei que havia uma pequena brisa constante pelo que vi logo que não devia abrir a boca para não secar a garganta.
Chegado ao carro, fiquei todo satisfeito porque as portas não estavam coladas e para mais o meu não fez parte dos cerca de quinze mil que não arrancaram. O carro aqueceu bem mas quando comecei a manobrar, as rodas viravam com muita dificuldade pois os pneus raspavam na neve congelada, autêntica pedra, que estava presa ao carro e às palas de defesa da lama. Não era problema, prevenido, tinha um pé de cabra na mala que comprei logo que cá cheguei e já me serviu numa emergência em 1998, que fez anos este mês. Para apanhar o menos frio possível abri a porta da mala por dentro na alavanca junto ao banco do condutor, saí e quando fui para abrir a mala, a porta estava colada; nada a fazer.
Baixei o banco de trás do meu lado para que o ar quente passasse para a mala e apanhei uma escova de fazer a neve, bati com ela no gêlo junto às rodas até que o cabo se partiu. Permitiu no entanto que as rodas ficassem a virar um pouco melhor. Assim, devagarinho pois mesmo com pneus de inverno o frio tão baixo faz-lhes perder a aderência, levei a minha mulher ao serviço aonde aproveitei para abrir a porta da mala uma vez que já tinha aquecido e com o pé de cabra partir o gêlo junto às rodas, para poder virar livremente em caso de necessidade.

Na volta apanhei a minha filha à porta de casa e começou o pesadelo das bichas infindáveis até chegar à estação de metro mais próximo. Ela foi apanhar o metro para a cidade de Longueuil, cuja estação lhe permite ir interiormente até ao serviço. Não apanha frio. Como é uma estação periférica a Montreal e a Longueil, tem um parque de estacionamento para 2400 automóveis com áreas de acostagem para entrada e saídas dos passageiros. Os passageiros que até aí vão de carro para apanharem o Metro para Montreal todos os dias de manhã e voltarem à noite, podem vir até esta cidade sem estarem em bichas intermináveis além da dificuldade para encontrar lugares de estacionamento chegados aqui. De notar que dentro de Montreal há uma autêntica cidade subterrânea cujas as passagens para pedestres, ligam diferentes estações de metro assim como diferentes edifícios e centros comerciais. Em muitos locais, os próprios corredores têm lojas dos dois lados. Há pessoas que fazem aí a sua vida, essencialmente de inverno, além das que aí trabalham.


Voltei a casa e novamente... as bichas. Foi um problema para encontrar um espaço junto a um Tim Hortons para comprar um café quente, pois o estacionamento estava cheio. Penso sinceramente desfazer-me do carro. É mais prático chamar um táxi ou alugar um carro quando se quer ir fóra e nem por isso no geral ao fim de um ano sai mais caro, além de ser muito mais prático: não há revisões, encher o tanque de gasolina debaixo do frio invernal, estar constantemente nesta época a ver a água do limpa vidros, tirar a neve que cai a todo o momento em cima do carro aonde quer que estejamos, etc. O café quentinho fui levá-lo à minha joínha mais velha pois também é preciso mantê-la.


Voltei para o meu ninho e deitei fora a escova com o cabo partido.


Chegado à cozinha, olhei para a árvore e vi os esquilos que andam sempre a saltar de árvore em árvore, aconchegados uns aos outros, as pernas todas abertas para os corpos ficarem bem encostados à árvore, uns com a cabeça para cima, outros com ela para baixo e muito socegadinhos a apanharem banho de sol.


Se dúvidas houvessem, esvaneceram-se: estava mesmo frio.

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