Reflexão
Fez ontem anos que teve lugar em Portugal o golpe de estado que o conduziu à Democracia, após quarenta anos de ditadura.
Foi quando me estava a lavar de manhã que me lembrei em que dia estava. Muitos filmes me passaram pela mente antes e depois do 25 de Abril, se bem que tudo relacionado com o mesmo assunto.
Fui das pessoas que foram estando mais ou menos informadas com o desenrolar do que os militares previam fazer pois consideravam-me uma pessoa moderada. A 17 de Março, dia a seguir a uma tentativa falhada de golpe de estado, estava na cave da empresa aonde trabalhava e um elemento do MFA veio-me dizer que a situação era irreversível. Alguns dias antes do 25 de Abril fui informado pelo mesmo elemento que a situação estava "mesmo a rebentar" e foi-me falando sobre o que os militares fariam cronológicamente nas diferentes colónias, se o golpe militar falhasse. No dia 25 de Abril quando soube que tudo já estava em marcha foi um momento de alegria, se bem que não fôsse espontânea pois já esperava e pensava sinceramente no futuro das nossas colónias, se bem que me tivessem deixado sempre descansado quanto à independência das mesmas. Jamais me tinha esquecido que o Dr. Mondlane antes de ser assassinado, tinha deixado bem claro que a indepência sem quadros nacionais, mesmo que levassem tempo a fazer, jamais seria de aceitar. Só que a dinâmica foi outra, tal não se fez e quem contactava comigo demitiu-se assim como outros elementos do MFA pelos mais variados motivos. Em Portugal sei que houve alegria expontânea da nossa juventude, outros portugueses que ficaram simplesmente alegres e outros na expectativa pois não estando contra o que viviam, era a incerteza do futuro. É certo que não tenho dúvidas que salvo raríssimas excepções o 25 de Abril foi de todos, mesmo com pontos de vista diferentes mas jamais os verdadeiros democratas irão querer ser só eles o apanágio desse dia. Só que mesmo em Lisboa aconteceram muitos problemas em pouco tempo, como o de uma família a viver há muito em Montreal em que o marido nesse dia de manhã ao saber o que se passava, deixou a sua casa em Setubal e foi-se pôr no cimo de uma árvore para ver bem a rendição da ditadura personalizada em Marcelo Caetano. Pouco tempo depois trabalhava sem ganhar dinheiro nos estaleiros, comia gratuitamente nos mesmos, coisa que antes jamais tinha feito pois levava a lancheira uma vez que não gostava da comida que eles davam. A necessidade a tal o obrigou. Só que para voltar a ganhar a dignidade a que tinha direito, veio até Montreal com a família.
Pensar que estes erros e muitos mais existiram, sem dúvidas nenhumas mas querer voltar ao passado, jamais. Fiquei admirado com o que disse recentemente Otelo mas não me admira: nunca gostei dele pois quando se faz um acto da envergadura como ele fez e é de louvar, deve-se prever um mínimo de situações pois devia estar consciente que toda a sociedade portuguesa e das ex-colónias estavam em jogo. Muitos milhões de pessoas.
Para mim, tivemos muita sorte no nosso caso pois apareceram Mário Soares e Ramalho Eanes na altura certa. Podem ser contestados, não tenho dúvidas mas deixaram obra enquanto os outros só sabiam falar. Se Ramalho Eanes estabilizou as forças armadas e automáticamente o próprio país, Mário Soares com o seu pêso internacional ia obtendo dádivas internacionais que nesse momento eram precisas para estabilizar a democracia. Foi o mal necessário por muitos aspectos, até para o futuro mas foi esse dinheiro que foi permitindo a sobrevivência do novo sistema democrático. Foi no entanto o hábito adquirido de pedir dinheiro sem produção, que nos levou à situação extremamente crítica dos nossos dias. Fazíamos tudo com dinheiro emprestado e nem notávamos que a Europa nos tentava recuperar como hoje se utiliza dizer em relação aos prevaricadores na vez de os punir, uma vez que nos emprestavam o dinheiro mas iam técnicos seus verificarem as nossas obras. Não acreditavam na nossa capacidade. Os nossos políticos na procura do voto fácil escondiam a verdadeira situação, se bem que uma pessoa pudesse desde logo se aperceber quando se deram as primeiras vendas de ouro, que eles andavam bem falantes, explicavam à sua maneira porque é que efectuavam a venda mas jamais na mesma altura marcavam prazos para a sua recuperação. Esbanjava-se sem produção que criasse riqueza, quando as condições para criação de produção era a eles que competia além do muito dinheiro mal gasto, mesmo em luxúria e situações inexplicáveis. Não me esqueço que não tiveram capacidade para chegarem a um acordo entre eles que ficaria entre nós portugueses e neste momento estão dispostos a acordar em conjunto a entrega do nosso país a uma companhia privada estrangeira chamada FMI, sem condições. O que deu o orgulho de cada um!!!! – se assim lhe pudermos chamar.
Hoje chamam-se todos os adjectivos depreciativos a esses senhores mas de facto nós todos tivemos muita culpa. Vamos falando contra os políticos mas deixando-os fazer tudo, pois nós mesmos criámos expectativas e anseios que víamos resolvidas através de partidos e deixá-mo-nos dividirem-nos a pontos de jamais reagirmos. Confundimos política eleitoral com interesses dos cidadãos. Era a nós que competia de os convidar a reuniões para sermos ilucidados casos eles não as criassem, ficando bem claro que com todo o respeito a mesa era para eles e a população nas cadeiras. Jamais sentados com eles e se houvesse caso para tal, fazer-lhes vêr bem o nosso desagrado sem jamais criar o poder na rua. Que o desagrado fôsse só na sala em presença de forças de segurança. Exponho pela experiência vivida no Quebec com excelentes resultados, pois já aconteceu. Além de medidas tomadas no sentido inverso em vários casos pelo governo, até já chegou a pedir desculpas públicas!!!!! A isto chama-se Democracia. O político é uma pessoa que merece ser bem tratada pois assumiu o seu cargo com a visão de melhorar a vida dos cidadãos de um país, trabalhando sem descanso, perdendo muitas vezes o verdadeiro contacto físico com a família, mesmo com os filhos mas tem que fazer por o merecer. Se não é capaz por qualquer que seja o motivo, que parta e ninguém lhe chamará nomes. Essa vida não é para ele.
Neste momento a Europa acha que o tempo da compreensão ao longo de todos estes anos chegou a seu termo e dá-nos a punição: FMI.
Que saibamos humildemente tomar as rédeas do nosso destino na vez de orgulhosamente pobres chamarmos nomes aos outros. Que se saiba humildemente obedecer, pois económicamente pusémos a camisa toda de fora.
Portugal tem sem dúvida todas as condições para sair da situação criada mas para isso tem de criar leis pelo que vou vendo por aqui, ou se as tem, não pode perder mais tempo para as pôr a funcionar dentro do que a democracia exige, sem olhar a quem. Não se pode receber um digno duvidoso com apertos de mão, abraços ou mesmo uma salva de palmas.
Como não vejo utilizarem o direito à informação de forma constante numa situação destas, penso que uma lei idêntica ao que já existe noutros lados seria imensamente benéfica.
Todo o cidadão nestes lados que queira tirar uma dúvida do que se passa ou passou sobre um assunto num organismo público ou empresa pública, escreve num papel a que passa a chamar documento o que deseja saber e com €3.60, fica com direito a ser totalmente informado. Pode apanhar o papel do chão pois a vida está cara e aqui também não ligam a isso. Simplicidade. Habitualmente os diversos serviços entregam fotocópias do que há em arquivo e não tentam enganar porque pode ser considerado conivência, pois para tal há outra lei de que falarei abaixo. Só no caso de ser considerado segredo de estado, podem cobrir a preto certas linhas, habitualmente com marcador, como já vi.
Lei de deontologia ética com poder compulsivo: - é necessária uma lei de deontologia que viria a dar credibilidade aos políticos. Uma lei que funcione dentro do que fôr estabelecido como ético, extramamente precisa para não dar direito a interpretações diferentes de forma constante e deve abranger um largo leque, incluindo casos crimes. A referida lei deveria determinar a punição como a perca de todos os poderes políticos durante um período, como por exemplo: dez anos. Durante esse tempo o prevaricador(a) não tem direito a passaporte nem a emprego público ou professorado em qualquer estabelecimentos de ensino, para que a democracia não dê maus exemplos porque ele já os deu.
A lei anti-conivência: todo aquele(a) que esconda um caso crime de qualquer origem que seja ou um caso de deontologia, será condenado automáticamente com a mesma sentença do prevaricador.
Isto dá um resultadão nos mais diversos campos.
Uma lei de prevenção que permita a uma pessoa de apresentar queixa sem ser incomodado pela polícia. É aos seus proficionais de irem verificar até que ponto o que lhes foi comunicado tem fundamento ou matéria crime. Outra lei que também dá um resultadão, quer o prevaricador seja um político, um polícia, um vizinho(a) que bate em todos lá na casa, droga, etc, etc. É claro que se uma pessoa começar a abusar do sistema com várias informações falsas em curtos espaços de tempo, alguém tem de falar com o habitual queixoso para ver aonde está o problema mas mais ninguém sabe.
Tanto a lei do direito à informação como a da anti-conivência assim como a da prevenção, estão em vigor por estes lados e a lei de deontologia ética existe sem punição mas vai ser só uma questão de tempo. Os jornalistas de inquérito neste e noutros casos não lhes dão chance nenhume.
Formação de jornalistas experimentados em jornalismo de inquérito, pois leio nos jornais uma notícia ou outra mas perdidas no contexto que se vive e sem continuidade.
Motivação para que as mulheres comecem a acederem a todos tipos de profissões, muito especialmente o político e aí apaparicadas porque o mundo macho desse meio não lhes dá chance nenhuma mas mesmo nenhuma. Bem pelo contrário, vai-se aproveitar do mínimo erro ou defeito, mesmo físico para as destruir. Podem crer que se tem notado a sua eficiência, especialmente por um assunto muito importante já acima descrito: a ética.
Se de facto houver uma consulta pública para uma consertação social que não conseguiram entre eles, seria o grande momento para obrigar os políticos a aceitarem condições que mudem o comportamente a que nos habituaram. Basta só aproveitar as redes de comunicação social.
Já nos anos sessenta disse a um patrão que ele falava com o pessoal sem receber respostas mas que eles o compreendiam muito bem e nas línguas deles, iriam falar uns com os outros porque sabiam muito bem o que pensavam: eram pessoas e por isso com inteligência.
Sei que não sou um escritor mas como se diz por estes lados, o que é necessário é transmitir a mensagem.
Já agora deixo aqui uma quadra de uma canção muito conhecida e que cantarolava imensas vezes no passado.
Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
Pois bem, como tantos outros temos aprendido à nossa custa mas que os nossos netos tenham uma ideia do que custou a liberdade pois estando eu mais perto dos setenta que dos sessenta, eu e os jovens do meu tempo já não somos mais meninos. O tempo passou.