domingo, 4 de abril de 2010

Folar de Páscoa

Para os meus lados, Coimbra, as pessoas do meu tempo nascidas na primeira metade do século passado, eram quase todas batizadas e como tal tinham padrinhos. Francamente, como os meus padrinhos eram da minha família directa e por isso estava com eles todos os dias de manhã à noite, sempre os tratei pelos seus nomes. Isto fez com que na minha vida real nunca tivesse dado importância a tão elevado cargo. Por outro lado, vivíamos numa casa geminada com aparência exterior rectangular, cuja porta principal ficava ao centro do lado mais curto da casa e oposto à casa contígua do vizinho. Do lado de trás que dava para o quintal, ficava a porta da cozinha. Eu era miúdo, fácilmente entrava em casa pela porta principal, subia quatro degraus para ficar ao nível do rés-do-chão, virava à direita, passava pelas escada que ficavam à minha direita e iam para o primeiro andar mas não as subia, entrava na cozinha que tinha uma porta que dava para o quintal do lado de trás. Era como se nesse tempo já nascessemos a fazer programação pois eram tantos os loops, que uma vez ou outra saía do quintal. Os meus pais tinham o hábito de terem sempre jovens a comerem em casa, quer fôssem da família ou estranhos. A minha Mãe fazia esticar a comida de tal forma e bem apaladada, que as pessoas voltavam, habituavam-se e nunca ninguém saíu de barriga vazia. Hoje, olhando para trás, não sei como fazia pois já comigo nos meus trinta anos, chegamos a sentarmo-nos quatorze à mesa. Era uma alegria.

Aconteceu que por volta dos meus oito anos todos me queriam para padrinho, a que eu até nem dava valôr. Francamente, senti-me mais ligado a quatro: dois afilhados e duas afilhadas, sendo uma de família directa e outra que até morava perto de mim, ao fundo de uma rua perpendicular à minha. Os outros todos, francamente até nem sei quem eram pois só os via quando iam buscar o folar, se não pudesse desaparecer. Até tive um afilhado que foi batizado com o meu nome quando eu estava de férias, ficando como testemunha o meu homólogo São Francisco que coitadinho, não tinha culpa nenhuma. Essa é que eu não compreendia porque é que o São Francisco não lhe dava o folar. Eram dois fins de semana de alerta constante. A minha família a quererem-me em casa para os receber e eu sempre a espreitar quando vinham para partir. Logo que os pressentia, esperava que batessem à porta ou tocassem à campaínha, deixava-me ficar na cozinha e quando começavam a entrar pela porta principal, saía pela porta de trás. Só os quatro a que me referi acima, é que nunca me foram visitar pela Páscoa pois encontrava-mo-nos de vez em quando e só isso fazia com que eu ainda gostasse mais deles. Tudo isto me dava cá uma revoóóólta...

Enfim, anos passados. Hoje ficam as saudades desses tempos.

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