sábado, 10 de abril de 2010

Ontem como hoje e hoje como ontem

Há pessoas que têm a capacidade de estarem quase sempre em dia com o que escreveram através dos tempos, mesmo que o tenham feito nos fins do século dezanove princípios do século passado.


Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo fátuo encerra.


Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…

É a Hora!

Fernando Pessoa

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